quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mundo de muros

Por Jeisael Marx
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Muralha da China, muro de Berlin, muro na fronteira EUA/México, muro Israel/Palestina. Muros, muros, muros. Desde os tempos antigos, construídos com o objetivo de serem barreiras articifiais e também de proteção contra guerras, inimigos e bandidos. Mas também utilizados para separar, segregar, esconder mazelas. Muros nas favelas do Rio de Janeiro. Muros de histórias tristes que só os tijolos e o concreto podem contar.
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Quantos muros reais. Mais ainda os imaginários. Que limitam e separam pessoas, como a intolerância e o preconceito. Os muros que estão sendo erguidos no Rio trazem escondidos outros muros que muitos de nós não vemos ou fingimos não ver.
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Eles nascem supostamente para conter o avanço das favelas sobre a mata atlântica. E começam pela zona sul, área nobre, onde não interessa ter pobres, onde há enormes interesses imobiliários. Mesmo local onde mansões também invadem a mata.
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Curiosamente, os muros estão sendo levantados em favelas onde houve um crescimento de cerca de apenas 1%. A comunidade Dona Marta, por exemplo, encolheu. O Instituto Pereira Passos, que é da Prefeitura do Rio, diz que mais de 65% das encostas acima de 100 metros são ocupados por nada mais nada menos que ricos.
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Os ricos e a classe média que ocupam encostas também não teriam sua culpa na devastação dessas encostas? Os muros para cercar os favelados do Rio perdem sua força, com esses dados.
Parece que o que eles querem não é protejer a mata atlântica. É proteger os ricos dos marginalizados. A medida vai apenas reforçar estigmas e evidenciar a flagrante divisão de classes sociais no Brasil.
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Mesmo o Governo do Rio tentando refutar argumentos contrários ao muro, afirmando não haver qualquer discriminação, uma alegação do Governador Sérgio Cabral em janeiro, quando o projeto foi inicialmente anunciado, dá uma idéia das reais motivações por trás do muro. "A prioridade das autoridades é enfrentar o tráfico de drogas e as milícias, impondo limites ao crescimento desordenado", disse ele.
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Não precisa um olhar muito atento, para perceber que o mundo tem sido palco de seguidas políticas de limpeza e segregação social. E o Rio parece estar combatendo mais os pobres do que a pobreza. Serão 11 mil metros de muros de 3 metros de altura "limpando" as áreas, deixando os pobres e supostamente criminosos de um lado para que do outro lado viva-se o glamour das praias sem favelas a sujar a paisagem.
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A socióloga Vera Malaguti, do Instituto de Criminologia Carioca, aponta que os pobres no Rio de Janeiro são vítimas de crescente truculência oficial e vistos como ‘lixo humano' que precisa ser removido da cidade, uma vez que a presença dessa parcela da população é prejudicial aos grandes negócios e à especulação imobiliária.
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O muro no Rio ganha corpo com cimento e areia. Mas antes deste ser erguido, bem antes, outros muros já existiam. Estão apenas tomando forma com tijolo e concreto.

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